quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Não sei quantas almas tenho


"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa

Hoje deixo um poema do poeta que mais admiro, que mais me fascina ler e interpretar. Talvez me fascine pelos seus enigmas por entre as letras, pelas frases complexas, mas ao mesmo tempo simples, pelas palavras mais vulgares ditas de ums forma diferente. Pessoa faz-me me pensar, no que se inspirou para tais poemas escrever, será que sentia o que escrevia, ou apenas escrevia o que não sentia, ou escrevia o que queria sentir deixando no ar para os leitores interpretarem e decifrarem os segredos que esconde nas suas linhas de pura imaginação... 

Susana V


Sem comentários:

Enviar um comentário

Abre a tua alma...